quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

SOMOS O RESULTADO DA LINGUAGEM


               Certamente, quando verificamos nossas próprias vivências, encontramos um mundo bem disperso ao alcance de nossos olhos. Incansavelmente, percorremos trilhas e rotas de infinitos destinos, convidando-nos a participar de uma inusitada experiência: a vida literária.
               São vários os convites. Uma aula, palestra, documentário, ou até mesmo uma conversa informal. Jamais acreditamos que tudo o que está à nossa volta seja eterno e, com base nesses convites, relacionamos as opiniões pessoais às expectativas. Só o que não vemos é que por sermos assim já vivemos num campo literário.
               Viver é a maior literatura já determinada. A vida é a escolha de um texto realista, romântico, árcade... É a angústia de querer chegar, embora o destino seja casual. É ter uma ampla biblioteca de saberes e não conseguir escolher o livro certo.
               Ainda bem que temos a linguagem em nosso favor. É ela quem conduz os caminhos que escolhemos. Sua influência é tão inesgotável que percorre nossas mais irrelevantes situações, transformando-as ou extinguindo-as. A língua se faz viva no instante de sua presença. Cada minuto de pronunciamento é um pequeno tijolo compondo uma parede sustentável.
               Somos o produto da linguagem. Ela é um rótulo. Através dela somos comparados, julgados, contemplados, e a arte se faz disso. A vida literária se compõe nela, justificando de geração em geração a sua magnitude.

*   *   *   *   *

Viola enluarada - Grupo Voz

domingo, 19 de dezembro de 2010

              Afinal... O que é literatura?


                "A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social. O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades factuais. Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida. A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo poder haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana."
                                                                                                                                                  (Afrânio Coutinho – Teórico Literário)

Alguns Conceitos sobre Literatura


"Arte literária é a arte que imita pela palavra." (Aristóteles, filósofo grego, séc. IV a.C)
"A literatura é a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem." (Louis de Bonald, pensador e crítico do Romantismo francês, início do séc. XIX)
"O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate."  (Jean-Paul Sartre, filósofo francês)
"A poesia existe nos fatos"   (Oswald de Andrade, poeta brasileiro, séc. XX)



                                                                             OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

                                Mário Quintana


            A linguagem é o veículo utilizado para se escrever uma obra literária. Escrever obras literárias é trabalhar com a linguagem. Os Gêneros Literários são as várias formas de trabalhar a linguagem, de registrar a história, e fazer com que a essa linguagem seja um instrumento de conexão entre os diversos contextos literários que estão dispersos ao redor do mundo.
            Nos textos literários nem sempre a linguagem apresenta um único sentido, aquele apresentado pelo dicionário. Empregadas em alguns contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, carregados de valores afetivos ou sociais.
                Quando a palavra é utilizada com seu sentido comum (o que aparece no dicionário) dizemos que foi empregada denotativamente. 
                Quando é utilizada com um sentido diferente daquele que lhe é comum, dizemos que foi empregada conotativamente, este recurso é muito explorado na Literatura.
                A linguagem conotativa não é exclusiva da literatura, ela é empregada em letras de música, anúncios publicitários, conversas do dia-a-dia, etc.
           "É assim que nasce o prazer pela leitura. Essa ânsia em aprimorar e conhecer o significado dos textos e imagens que aparecem em nossas experiências de vida faz de nosso pensamento uma arte. Somos, então, convidados a participar de uma eterna busca de esclarecimentos. Quanto mais lemos, mais desvendamos esses mistérios."